Na Jamaica, pegue a estrada: costa norte tem Caribe de 007 e montanhas.
Adriana Terra
Colaboração para o UOL, na Jamaica*
O carro percorre o interior da ilha ao som de uma versão jamaicana
de um hit americano dos anos 80. Enquanto o motorista cantarola, pela
janela vão passando pequenos restaurantes de “jerk chicken”, barracas de
frutas, bares de rum e salões de beleza com fachadas coloridas.
Estamos no norte da Jamaica, região de florestas, lagos, cachoeiras e
praias bem ao estilo caribenho. Um lugar onde dá para se encantar muitas
vezes, e não só com a natureza. Dos penteados elaborados que as
mulheres usam até os cartazes de shows que revelam a cultura gráfica
local, tudo na ilha tem muito estilo.
Talvez mais lembrada pelos
brasileiros pelo reggae e pelo cenário urbano de Kingston do que pelas
praias, a Jamaica tem, além de uma capital caótica e uma rica produção
musical que a tornou conhecida no mundo todo, mais de mil quilômetros de
costa voltada ao mar do Caribe, cercando suas cordilheiras - o país é
super montanhoso.
Chamada por seus primeiros habitantes de terra
da madeira e da água (“Xaymaca”, em Arawak), surpreende pela quantidade
de rios e cascatas espalhados por um território razoavelmente pequeno:
11 mil km² de extensão - o tamanho da cidade de Manaus. Espanta ainda
mais saber que em muitas regiões mais pobres falta, justamente, água.
Nos últimos cinco anos, a parte norte mudou bastante, contam os
jamaicanos, o que tem a ver com investimentos no turismo. Hoje, o setor é
um dos motores da economia da ilha. Em toda a costa há ampla
infraestrutura de hotéis e resorts luxuosos, muitos deles novos. Mas
ainda há também pousadas e hostels, além de muitas casas para locação
temporária.
A atração pela região não vem de agora. Há mais de
cinco décadas, turistas se hospedam ali em busca de um pedacinho de
paraíso à beira-mar. Rodado na ilha, o primeiro filme de James Bond,
“007 Contra o Satânico Dr. No” (1962), ajudou a alimentar este
imaginário.
Tanto aos interessados neste circuito mais oficial
quanto aos que querem escapar dele, viajar pelo norte vale a pena. Além
das belezas naturais, um passeio pelas montanhas, onde vive boa parte da
população, revela muito da personalidade da ilha: as festas de
dancehall invadindo as ruas numa sexta à noite, homens jogando dominó na
beira da estrada e construções de madeira com referências à cultura
rastafári que se intercalam com casarões de arquitetura inglesa.
Para conhecer um pouco desta parte do país, reunimos abaixo alguns
destinos e passeios. Dica: reserve ao menos quatro dias por ali e não
deixe de conversar com quem vive na região.
Praias, museu e frango apimentado em Mo’Bay
Montego Bay é onde fica o segundo aeroporto do país e porta de entrada
de boa parte dos viajantes. A cidade, que sedia o megafestival Reggae
Sumfest, está a três horas de carro da capital Kingston - considerada
menos turística, mas fundamental para quem gosta da cultura local. Não é
preciso ficar indeciso: dá para ir de uma a outra por terra ou em voos
de meia hora.
Na Sam Sharpe Square, faça uma parada no recém-aberto centro cultural, com exposições interessantes (quando a reportagem do UOL visitou
a ilha, havia uma sobre rastafarianismo e outra sobre mulheres
artistas), além de observar a vida que corre em volta da praça:
estudantes saindo das aulas, confusão de carros - o trânsito jamaicano é
caótico - e comércio de rua. A uma distância caminhável está o
Scotchies, clássico ponto de jerk chicken, o mais famoso prato local:
galeto assado lentamente sobre troncos de pimento, árvore típica da
ilha.
Também perto dali está a Doctor’s Cave, praia cuja lenda
diz que as águas são terapêuticas. Como infelizmente ocorre com outras
praias badaladas da região, há uma taxa para acessá-la, por volta de US$
5**. Para fugir disso, procure praias como a Dead End.
Cachoeira de James Bond e montanha mística
Uma hora e meia a leste de Mo’Bay, Ocho Ríos é uma cidade portuária que
virou meca do turismo. De um lado há resorts à beira-mar que atraem
famílias americanas e canadenses. Do outro, um centrinho onde redes de
fast-food se misturam a comércios mais autênticos que resistem, como uma
loja de discos de reggae ou uma ital shop (de comida vegetariana).
Na região, a Dunn’s River Falls é
uma queda d’água de 183m que desemboca no mar, famosa por ser um dos
cenários do filme de James Bond. É bonita, mas totalmente lotada, então a
dica é chegar cedo. A entrada custa US$ 20** para turistas. No caminho,
vale parar para uma refeição no Ocho Ríos Village Jerk Centre, que tem
comida simples e deliciosa.
Perto dali, a Blue Hole é uma lagoa
bem mais tranquila, com águas de um azul-piscina intenso, devido a
presença de pedra calcária. Guias levam viajantes pelas trilhas até
lagoas e quedas mais afastadas por cerca de US$ 10** (é comum aceitarem
tanto dólares americanos quanto jamaicanos em pontos turísticos). Se
você for no começo da manhã, pode dar um mergulho sozinho.
Na
Mystic Mountain um teleférico sobe por dentro de uma densa floresta com
árvores de pimento e ackee (fruto da ilha), levando a um parque com
mirante, circuitos de tirolesa, bobsled (o carrinho do filme “Jamaica
Abaixo de Zero” adaptado para o clima tropical), restaurante e um centro
cultural que conta um pouco da história da ilha e mostra ícones locais -
Bob Marley e o corredor Usain Bolt obviamente são destaque. Os preços
das atividades no parque, no entanto, são meio salgados, começando em
US$ 20** (para crianças) e chegando a US$ 140**.
Rumo oeste: clima de vilarejo praiano e pôr-do-sol
Uma hora e meia a oeste de Montego Bay, Negril tem atmosfera de
vilarejo praiano, com ateliês de escultores de portas abertas, chão de
terra, pequenos bares e restaurantes. Por conta do turismo tradicional
que avança na costa da ilha, a cidade não é mais toda assim, mas ainda
há ali um clima rústico que a difere de outras áreas ao norte.
Sua extensa praia combina grandes falésias, recifes de corais e mar
azul. Chamada de Seven-Mile Beach, tem partes monopolizadas por hotéis e
outras públicas, de fato.
Nos finais de tarde, do alto de uma
enorme pedra onde fica o bar Rick’s Cafe é possível saltar de 10m de
altura para o mar ou apenas tomar uma cerveja vendo o pôr-do-sol. O
local é bem clichê turístico, mas a vista é bonita. Conhecida pela vida
noturna, a região tem casas onde rolam shows e discotecagens de nomes da
música jamaicana - Roots Bamboo, De Buss e Mi Yard são exemplos onde a
frequência é mais local.
Como ir?
Para fazer os trajetos acima você pode alugar um carro, mas precisa
encarar a mão inglesa, vigente na ilha. Dá também para contratar tours (neste site),
usar táxi (os percursos descritos saem entre US$ 60** e US$ 90**) ou
ônibus (que fica bem mais barato: entre US$ 13** e US$ 15**). Para se
informar sobre transporte público intermunicipal, visite o site.
MAIS SOBRE A ILHA
Origens, política e maconha
Originalmente habitada pelos índios Tainos, o país teve duas
colonizações: espanhola e britânica. A diáspora africana é marcante na
Jamaica, como em todo o Caribe: após os indígenas terem sido
praticamente dizimados pelos colonizadores, povos que viviam onde hoje
são Nigéria e Gana foram trazidos escravizados a ilha. Atualmente, a
população é formada em sua imensa maioria (cerca de 90%) por
afrodescendentes, o que reflete na música, gastronomia e no idioma - o patois,
língua crioula falada no país, tem palavras de origem africana. Já no
pós-abolicionismo, chineses e indianos vieram trabalhar na Jamaica
colônia.
Independente desde 1962 apenas, a Jamaica tem regime
parlamentar. Entre 2011 e 2016, quem governou foi uma mulher do partido
de centro-esquerda People’s National Party. Foi em seu governo que a maconha foi descriminalizada na ilha -
apesar da aceitação social do consumo da erva, sua posse era ilegal até
então. Em 2016, voltou ao poder o Partido Trabalhista, que, apesar do
nome, é conservador.
Circulando pela ilha
A
Jamaica tem altos índices de violência, então viajar acompanhado de um
morador local é sempre bom para ter mais informações e passear com
tranquilidade, mas estando sozinho você pode caminhar atento e se
informar sobre regiões mais hostis a um estrangeiro. Sendo mulher, é
importante saber que o assédio masculino é comum na ilha. Existe
bastante assédio a turistas no comércio também, já que há muita pobreza.
Se quiser fotografar alguém, aja com respeito e converse antes com a
pessoa.
http://viagem.uol.com.br/guia/jamaica/kingston/roteiros/na-jamaica-pegue-a-estrada-costa-norte-tem-caribe-de-007-rum-e-montanhas/index.htm
Depois de ser considerada a praia mais bonita do Brasil pelo jornal inglês The Guardian, em 2009, a fama de Alter do Chão subiu mais do que o rio Tapajós na cheia.
O período ideal para visitar esta vila, localizada a 36km de Santarém, no Pará, vai de setembro a fevereiro, quando chove menos e o rio baixa, revelando suas praias de areia fina. No entanto, essas estações e o volume de água têm variado bastante nos últimos anos, por efeito do desmatamento na Amazônia, influências do fenômeno El Niño e mudanças cilmáticas regionais e globais.
A seca do último ano ampliou o período de vazante, que geralmente terminava em novembro, mas está indo até meados de janeiro. Apesar do clima quente, o vento que sopra constantemente traz o frescor do rio, tornando o clima agradável até para aqueles que “odeiam o calor”.
A maioria dos passeios é feito por meio de lanchas velozes (voadeiras), pequenos barcos (rabetas) coordenados por moradores locais, barquinhos a remo (catraias) para cruzar até a ilha do Amor na cheia ou grandes barcos para grupos de 10 a 20 pessoas, com direito a muita música sertaneja no som ambiente. Os preços variam bastante de acordo com a distância, número de passageiros e a época. Geralmente ficam mais altos no verão e voltam ao normal na segunda semana de janeiro.
Mas fique atento: no Lago Verde e em algumas praias placas alertam para a existência de arraias no local. O perigo está na ferroada, que é extremamente dolorosa. Os casos são raros, porém, é bom tomar cuidado ao entrar, sempre arrastando os pés.
Conheça abaixo alguns destaques da região.
Ilha do Amor
O cartão de visitas de Alter é um pequeno trecho de areia entre o Lago Verde e o rio Tapajós. Uma "prainha” de água morna, na altura das canelas, ideal para levar crianças ou esperar o pôr do sol em uma barraquinha abastecida pelos bangalôs que vendem bebida, petiscos e pratos feitos. Pode ser alcançada a pé, durante a vazante, ou de catraia, durante a cheia.
Lago Verde e Floresta Encantada
Os mais bonitos igarapés, como o do Macaco (onde também vive uma comunidade alternativa) e o do Camarão, precisam ser visitados de barco. Existem duas opções: dar a volta no lago em três horas, com pequenas paradas em cada área de interesse, ou pedir para um barqueiro te deixar em um igarapé específico e voltar para buscá-lo no fim da tarde.
O hotel Belo Alter, à beira do lago, serve um ótimo café da manhã e refeições a preços razoáveis. De quebra, deixa quem consumir utilizar sua piscina. Também dá para curtir a praia de Igarapé ou pegar um barco a remo para explorar as copas das árvores da Floresta Encantada, repleta de nascentes. É possível ainda explorar o local com um caiaque, cujo aluguel diário é de R$ 50 por pessoa (preço pesquisado em janeiro de 2016).
Igarapés
Existem centenas de nascentes perto da vila de Alter que desembocam no rio, algumas formando pequenas piscinas de água cristalina. Esses lugares são ótima opção para aqueles dias em que você não quer encarar o trabalho de ir atrás de um barco e fazer um passeio de várias horas. Entre as alternativas está o iguarapé do Sonrisal (foto acima), que vale a pena de ser visitado.
Flona
Separe ao menos um dia para conhecer a Floresta Nacional do Tapajós. Trata-se de um passeio de cerca de uma hora de lancha (ou três horas de barco), em que o viajante desembarca em uma das duas comunidades ribeirinhas (Maguari ou Jamaraquá). Lá, consegue conhecer o artesanato local em látex, fazer uma refeição ou até mesmo pernoitar para encarar uma trilha no dia seguinte. São mais de 500 mil hectares, 350 espécies de aves e 400 espécies de árvores, incluindo uma samaúma de mais de 60m e quase mil anos de idade.
Pindobal
Pode ser alcançada de barco ou pela estrada, pois está localizada a 7km do centro de Alter do Chão. Funciona como uma opção menos movimentada para a alta temporada e época de festas, quando a vila fica lotada. A praia é ampla e repleta de barraquinhas com serviço de bar. Se tiver sorte, e dependendo do período, é possível até avistar botos pulando na água.
Ponta do Cururu
Passeio de barco rápido, barato e imperdível, que leva cerca de meia hora. Esta é uma ponta de areia de 1km que entra pelo rio e permite assistir ao pôr do sol no meio dele. Um bom lugar para levar uma canga ou rede para um cochilo ou apenas ficar assistindo os bandos de gaivotas à procura de peixes, um espetáculo à parte.
Resex Tapajós - Arapiuns
Do lado de cá do rio Tapajós ficam as praias e, do outro, fica a Reserva Extrativista Resex Tapajós - Arapiuns (foto). Imperdível para quem quer se sentir realmente no meio da floresta amazônica, conhecer a piracaia (o “lual" amazônico, com pratos típicos regados a caipirinha e suco de taperebá) em uma comunidade ribeirinha ou fazer trilhas ecológicas.
http://viagem.uol.com.br/guia/brasil/santarem/roteiros/famosa-por-praia-de-agua-doce-alter-do-chao-pa-tem-paisagem-deslumbrante/index.htm