Barcelona gastronômica tem mercados de rua, vinhos, cervejas e comilança.
Rafael Mosna
Do UOL, em Barcelona (Espanha)*
Comida é levada a sério na Catalunha, região autônoma da Espanha
cuja capital é Barcelona. São vários, por exemplo, os mercados de rua
espalhados pelos bairros da cidade.
Uma tradição que ainda
persiste entre os locais faz referência a uma bebida, o vermute. "Anar a
fer el vermut" (“ir para o vermute”, em tradução livre do catalão para o
português) é um ato que antecede a refeição e pode envolver, além do
dito cujo, também cerveja, vinho e licores para abrir o apetite. Não
podem faltar aperitivos como azeitona, batatas chips e o conhecido jamón
(presunto cru) aliados ao encontro entre amigos.
O UOL Viagem preparou um roteiro para ajudar quem planeja fazer de Barcelona o seu próximo destino gastronômico. Prepare o seu apetite.
Mercados locais
Em meio à enxurrada de turistas que circula pelos corredores, há também vários catalães que vão a La Boqueria
para fazer compras. Basicamente, as mais de 300 barracas estão
divididas em quatro setores: peixes e mariscos, muitos ali ainda vivos -
ou moribundos; frutas regionais e importadas, com ofertas de vitaminas e
sucos vendidos em copos; embutidos, como o jamón; e carnes em geral.
Não faltam guloseimas, geleias, conservas, trufas brancas e negras – nas
quais os espanhóis parecem ser vidrados.
As origens da Boqueria
estão na antiga cidade medieval de Barcelona. Ela se localizava na área
externa às muralhas, para fugir da cobrança de impostos aplicados ao
comércio vigente na região interna. Era um mercado aberto, que, no
século 19, se trasladou "temporariamente" para o terreno onde está
fixado hoje, próximo à rambla, em uma área de mais de 2.500 m². O local,
a partir do século 16, abrigava o convento das carmelitas descalças,
mas foi incendiado por revolucionários em julho de 1835.
O
local vende quase todos os tipos de produto da Boqueria, incluindo os
itens frescos, mas em menor número. Uma barraca especializada em ovos
comercializa o "ovo trufado". Estocado junto a trufas, os poros da sua
casca absorvem o inconfundível aroma. Se conseguir armazená-lo (ou
consumi-lo) durante a viagem, pague para ver. Ou melhor, para provar.
Separada por uma porta automática de vidro, uma pequena área com um
jardim vertical é destinada a restaurantes servirem refeições.
Pequenos produtores
Minibarracas ao ar livre vendem mel, queijo (produzidos a partir de
leite de vaca, ovelha e cabra, a partir de 4 euros o pedaço; cerca de R$
14**), balas, bolos e tortas, geleias, ervas, vinhos, chocolates,
cogumelos, frutas secas. Tudo proveniente de 12 produtores do interior
da Catalunha. Alguns comercializam ao consumidor final somente no local,
já que, fora dali, seus clientes são apenas restaurantes.
Eles ficam na praça em frente à igreja Santa Maria del Pi (“pi”, de “pinheiro”, em catalão) das 11h às 14h30 e das 17h às 21h30 somente alguns dias do mês.
Na base do leite
Imagine a seguinte cena: sentada, sem pressa, uma senhora desfruta, às
colheradas, uma pratada de chantilly. Puro e em quantidade de creme
suficiente para a cobertura de um bolo. Na saída, pede um pouco mais
para viagem. Pode parecer inusitado, mas a história tal qual descrita
aconteceu na visita deste repórter à Granja M Viader (granjaviader.cat.mialias.net). "Granja", vale explicar, é um estabelecimento onde tradicionalmente vendem leite e seus derivados.
Tem destaque na prateleira o
cacaolat, leite com chocolate vendido tradicionalmente em uma garrafinha
de vidro. Criado por Marc Viader, faz parte da memória afetiva dos
catalães.
Os comes e bebes, atualmente, não ficam restritos aos
derivados de leite. Há também doces e embutidos de porco, entre outras
iguarias.
Palácio medieval
O bairro gótico de Barcelona guarda construções que remontam à Idade Média. Em uma delas está localizado o restaurante Neri (www.hotelneri.com),
cujo salão está ambientado em meio a um muro de pedras que data do
século 12. Para comer, espere por criações inventivas em um ambiente
tranquilo.
Repare nas pedras negras em exposição logo na
entrada. São sais indianos Kala Namak, cujo sabor é bastante próximo ao
do ovo frito.
A apresentação delicada de pratos como o carpaccio
de alcachofra com romesco (molho típico) e secallona (embutido de
porco) ganha pequenas flores de cebolinha, bem notadas à boca (o sabor é
similar ao da planta).
Apesar de fazer parte da cadeia luxuosa
Relais & Châteaux, a experiência gastronômica na casa está longe dos
altos preços praticados por locais similares em São Paulo e no Rio. De
segunda a sexta, um almoço com entrada, prato principal, sobremesa e uma
bebida (água, suco ou taça de vinho) sai a 22 euros (cerca de R$ 78**).
Aos sábados e domingos, o valor é 25 euros (cerca de R$ 90**) e exclui
bebidas. Para o jantar, de domingo a quinta, o menu requer um
investimento maior. Com aperitivos e outras cinco (ou, com sorte, seis)
etapas, sai a 37 euros (R$ 132**).
Se a ideia é se dar ao luxo de uma experiência gastronômica mais pomposa e em um local charmoso, o Blanc Brasserie & Gastrobar (www.mandarinoriental.com/barcelona/fine-dining/blanc)
pode ser visitado tanto para um chá da tarde quanto para uma refeição
completa. Está localizado em pleno Passeig de Gràcia, região barcelonesa
que abriga lojas de luxo e atrações turísticas famosas como a Casa
Batlló e a La Pedrera (Casa Milà), consideradas obras-primas de Gaudí.
Fica no interior do hotel Mandarin Oriental, também casa do restaurante
Moments, duas estrelas no guia Michelin.
Com pratos e serviços
impecáveis, não espere por pechinchas. Tampouco serão encontrados preços
estratosféricos. Entrada, prato principal, sobremesa e café podem
custar 33 euros (R$ 118**) bem investidos. Nesse caso, podem chegar à
mesa releituras de clássicos da culinária mediterrânea, como os três
tipos de melão servidos com jamón, cujo preparo utiliza técnicas
contemporâneas.
Até mesmo o hambúrguer não é um simples
sanduíche. Ele é feito com carne dry-age (maturada a seco, sob
temperatura controlada em câmera de ventilação) e é servido com cebola,
cheddar e batatas fritas (18 euros; R$ 65**).
Dos vinhos...
São de sete a oito mil rótulos à venda, entre vinhos e destilados. Na Vila Viniteca (www.vilaviniteca.es),
as garrafas custam entre 3 euros (cerca de R$ 11**) e 15 mil euros
(mais de R$ 53,5 mil**). O local trabalha com todas as denominações de
origem controladas da Espanha, incluindo as 11 catalães e cava
(espumante). A entrega no hotel é gratuita a partir de 12 garrafas ou
120 euros gastos (R$ 428**).
Além das bebidas, há uma “loja
gourmet” com venda de azeites, embutidos, chocolates, conservas e uma
seleção de 300 a 500 queijos, dependendo da temporada, entre outros
itens. Poucas mesas estão disponíveis para o consumo ali mesmo.
...E das cervejas
Outra marca queridinha dos catalães é a cerveja Moritz (www.moritz.com).
Fundada em 1856, a bebida acabou ficando fora do circuito, mas voltou
recentemente com força total. Sua antiga fábrica foi restaurada pela
família e hoje abriga uma microcervejaria, um restaurante e um bar de
vinhos. A cerveja servida e produzida ali é feita em pequena escala. Não
sofre pasteurização e, por isso, sai da torneira ainda fresca, com
validade limitada.
Para provar outras variedades de cervejas catalãs, vá a La Cerveteca (www.lacerveteca.com), bar com opções de chopes e garrafas. Para comprar, a BeerStore (www.beerstore.pi3.es), próxima à Sagrada Família, e a Rosses i Torrades (www.rossesitorrades.com)
comercializam uma boa quantidade de rótulos regionais que não chegam ao
Brasil, assim como outras opções espanholas e internacionais.
Confeitaria de artista
Também na rambla, a Pastisseria Escribà (www.escriba.es)
é comandada por Christian Escribà, quarta geração de chefs-pâtissier
bastante famosa na Catalunha. A pequena loja por si só já vale a visita,
com decoração modernista, cheia de mosaicos e esculturas.
Dentro, bolos personalizados e miniesculturas de doces estão ao lado de receitas clássicas como croissant e crema catalana.
Mestres ‘tostadores’
“Hoje em dia, você aperta um botão e tem um resultado uniforme. Uma
amêndoa pode ser torrada em duas horas nesses fornos modernos. Aqui,
podemos levar até cinco dias”, explica com paixão Igor Ramos, que
trabalha há três anos na Casa Gispert (www.casagispert.com),
loja especializada em torras de frutas oleaginosas, como castanhas,
nozes, amêndoas e avelãs, desde 1851. O sabor é único e remete bastante à
lenha utilizada na fabricação.
A reportagem, não identificada
como imprensa, esteve em uma pequena visita feita com clientes
tradicionais e Igor continuava contando sua rotina, entusiasmado e
falando em um castelhano ultrarrápido. Mostrou as cicatrizes em seu
braço, resultado de queimaduras ao provar algo do forno centenário ainda
em funcionamento. “Não gosto dessa aparelhagem nova, com tanta
tecnologia em que tudo sai com o sabor igual.”
Quando e como ir
Barcelona tem um verão bastante quente e um inverno considerado frio
para os padrões brasileiros, com temperatura média de 9°C. Bastante
turística, espere mais visitantes durantes os meses mais quentes (julho e
agosto). Turistas brasileiros não precisam de visto antecipado.
http://viagem.uol.com.br/album/guia/2015/07/10/veja-opcoes-saborosas-para-um-tour-gastronomico-por-barcelona.htm#fotoNav=4
Nenhum comentário:
Postar um comentário