Reduto de kitesurfistas, São Miguel do Gostoso surpreende pela beleza e variedade gastronômica.
Embarcação pesqueira ancorada na praia de Maceió; à direita, casa restaurada no município Montagem sobre fotos de Marcelo Soares/UOL |
“E aí, está gostando de Gostoso?” A pergunta é irresistível e o lugar,
São Miguel do Gostoso, cidade a pouco mais de 100 km de Natal, preserva o
encanto de oásis desvendado aos poucos no litoral do Nordeste. São
poucas praias, de águas claras e mornas, onde a força dos ventos fundiu a
prática de dois esportes que transformaram o balneário em nova meca dos
velejadores: o kitesurfe e o windsurfe. Mas, junto da adrenalina e da
agitação dos atletas, que chegam do Brasil e sobretudo da Europa, a
pacata vila de pescadores também promove o seu avesso: o relax total em
confortáveis pousadas e restaurantes que fazem qualquer um gostar de
Gostoso em qualquer época do ano.
O acesso a partir de Natal se revela tranquilo, com a BR-101 em boas condições, e lá chegando o melhor a fazer é desligar-se do automóvel para se integrar melhor à paisagem dos coqueiros ondulantes de um lado e mar azul de outro. Mesmo no centro da cidade, os trechos com asfalto são raros: disposição para caminhar e bicicletas resolvem boa parte dos deslocamentos entre as praias de Xêpa, Cardeiro, Maceió e Ponta do Santo Cristo. Dá para alugar bugues ou contratar mototáxis para distâncias maiores, como os passeios para a lagoa do Sal ou praia de Tourinhos, a enseada mais bonita das redondezas.
A primeira escola de esportes náuticos foi inaugurada em 2007, pelo windsurfista italiano Paolo Migliorini, e no final de 2010 já se instalava a terceira, comandada pelo tricampeão mundial Kauli Seadi, brasileiro de Florianópolis. Espaços de convivência, aulas práticas e também guarderias de velas e pranchas, as escolas atraem velejadores veteranos e iniciantes ao longo de quase todo o ano, já que a temporada de bons ventos se prolonga por nove meses, a partir de setembro.
Nas pousadas, os amantes de kitesurfe e windsurfe se deixam identificar desde o café da manhã: preferem frutas, sucos, iogurte, queijo e granola, resistindo bravamente aos bolos doces e tapiocas recheadas da culinária regional. Ambos as modalidades exigem resistência física e boa forma, um tributo a pagar pelo privilégio de atingir grande velocidade sobre as ondas e ainda enxergar aquele cenário azul, verde e dourado de areia de ângulos inimagináveis para os banhistas – voando, por exemplo.
Quem não se anima a velejar, pelo menos assiste na orla à dança colorida das velas, em geral, a partir do final da manhã. Nos finais de semana, o céu parece uma pintura em movimento. Nas hospedagens localizadas perto do mar na Ponta do Santo Cristo, o point dos esportistas, é possível apreciar o vai-e-vem das pipas infladas do kitesurfe desde os quartos e varandas. Entre as principais pousadas, aliás, o que não falta são recantos especiais, refúgios com redes ao vento que ajudam a esquecer da correria da vida urbana.
Prepare-se: o nome curioso da cidade sempre vira assunto. Até hoje há moradores que não sabem a origem de “Gostoso” depois do nome do santo e, quando indagados por turistas, inventam. Dizem que alguém em algum lugar vendia alguma comida gostosa e o adjetivo pegou. Há versões mais confiáveis: a história oral do povoado ganha seus primeiros registros escritos, digitados em computador, em cópias de papel ofício. No Bar do Tico, na praia do Cardeiro, a jovem Vanuzia Silva, nascida na cidade, confirma a versão mais divulgada, que diz que, décadas atrás, muito antes da luz elétrica, do rádio e da TV, o “seu Gostoso” era um senhor importante no povoado, que gostava de contar histórias e sempre ria mais do que os ouvintes, ficando conhecido como o homem da risada gostosa.
“Eu fico imaginando aquela gente sem luz, no meio do nada, na praia, e ele no meio, contando causos mirabolantes e dando risada”, diz Vanuzia. “O seu Gostoso era um homem bom, nunca teve má fama”. Quando se emancipou da cidade de Touros, o novo município passou a se chamar São Miguel de Touros, em homenagem ao santo de devoção de um morador que construiu a capela. Em plebiscito posterior, porém, a população votou a favor do contador de causos, e o divertido seu Gostoso passou a integrar oficialmente a memória do litoral potiguar.
As histórias continuam a ser narradas, especialmente à noite, quando as velas e pranchas são recolhidas e os visitantes buscam bares e restaurantes para compartilhar aventuras e desventuras. O corpo dos aprendizes logo aprende que as pranchas voam também contra o vento. Proprietários e chefs contam que chegaram ali vindos de outras cidades do Rio Grande do Norte, e também de Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Paraná, Portugal, Espanha.
Que trocaram metrópoles barulhentas e profissões estressantes por um lugar onde as maiores riquezas vêm do mar e dos ventos – como mostra a recente economia local, movida a esportes náuticos e ecoturismo. Gostoso não é nenhum paraíso: nos períodos de estiagem, moradores e rebanhos inteiros sofrem com a falta de água. Como outras cidades do litoral brasileiro, foi privilegiada pela natureza, pelo calor do Sol e pela necessidade universal de férias.
http://viagem.uol.com.br/guia/brasil/sao-miguel-do-gostoso/index.htm
O acesso a partir de Natal se revela tranquilo, com a BR-101 em boas condições, e lá chegando o melhor a fazer é desligar-se do automóvel para se integrar melhor à paisagem dos coqueiros ondulantes de um lado e mar azul de outro. Mesmo no centro da cidade, os trechos com asfalto são raros: disposição para caminhar e bicicletas resolvem boa parte dos deslocamentos entre as praias de Xêpa, Cardeiro, Maceió e Ponta do Santo Cristo. Dá para alugar bugues ou contratar mototáxis para distâncias maiores, como os passeios para a lagoa do Sal ou praia de Tourinhos, a enseada mais bonita das redondezas.
A primeira escola de esportes náuticos foi inaugurada em 2007, pelo windsurfista italiano Paolo Migliorini, e no final de 2010 já se instalava a terceira, comandada pelo tricampeão mundial Kauli Seadi, brasileiro de Florianópolis. Espaços de convivência, aulas práticas e também guarderias de velas e pranchas, as escolas atraem velejadores veteranos e iniciantes ao longo de quase todo o ano, já que a temporada de bons ventos se prolonga por nove meses, a partir de setembro.
Nas pousadas, os amantes de kitesurfe e windsurfe se deixam identificar desde o café da manhã: preferem frutas, sucos, iogurte, queijo e granola, resistindo bravamente aos bolos doces e tapiocas recheadas da culinária regional. Ambos as modalidades exigem resistência física e boa forma, um tributo a pagar pelo privilégio de atingir grande velocidade sobre as ondas e ainda enxergar aquele cenário azul, verde e dourado de areia de ângulos inimagináveis para os banhistas – voando, por exemplo.
Quem não se anima a velejar, pelo menos assiste na orla à dança colorida das velas, em geral, a partir do final da manhã. Nos finais de semana, o céu parece uma pintura em movimento. Nas hospedagens localizadas perto do mar na Ponta do Santo Cristo, o point dos esportistas, é possível apreciar o vai-e-vem das pipas infladas do kitesurfe desde os quartos e varandas. Entre as principais pousadas, aliás, o que não falta são recantos especiais, refúgios com redes ao vento que ajudam a esquecer da correria da vida urbana.
Prepare-se: o nome curioso da cidade sempre vira assunto. Até hoje há moradores que não sabem a origem de “Gostoso” depois do nome do santo e, quando indagados por turistas, inventam. Dizem que alguém em algum lugar vendia alguma comida gostosa e o adjetivo pegou. Há versões mais confiáveis: a história oral do povoado ganha seus primeiros registros escritos, digitados em computador, em cópias de papel ofício. No Bar do Tico, na praia do Cardeiro, a jovem Vanuzia Silva, nascida na cidade, confirma a versão mais divulgada, que diz que, décadas atrás, muito antes da luz elétrica, do rádio e da TV, o “seu Gostoso” era um senhor importante no povoado, que gostava de contar histórias e sempre ria mais do que os ouvintes, ficando conhecido como o homem da risada gostosa.
“Eu fico imaginando aquela gente sem luz, no meio do nada, na praia, e ele no meio, contando causos mirabolantes e dando risada”, diz Vanuzia. “O seu Gostoso era um homem bom, nunca teve má fama”. Quando se emancipou da cidade de Touros, o novo município passou a se chamar São Miguel de Touros, em homenagem ao santo de devoção de um morador que construiu a capela. Em plebiscito posterior, porém, a população votou a favor do contador de causos, e o divertido seu Gostoso passou a integrar oficialmente a memória do litoral potiguar.
As histórias continuam a ser narradas, especialmente à noite, quando as velas e pranchas são recolhidas e os visitantes buscam bares e restaurantes para compartilhar aventuras e desventuras. O corpo dos aprendizes logo aprende que as pranchas voam também contra o vento. Proprietários e chefs contam que chegaram ali vindos de outras cidades do Rio Grande do Norte, e também de Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Paraná, Portugal, Espanha.
Que trocaram metrópoles barulhentas e profissões estressantes por um lugar onde as maiores riquezas vêm do mar e dos ventos – como mostra a recente economia local, movida a esportes náuticos e ecoturismo. Gostoso não é nenhum paraíso: nos períodos de estiagem, moradores e rebanhos inteiros sofrem com a falta de água. Como outras cidades do litoral brasileiro, foi privilegiada pela natureza, pelo calor do Sol e pela necessidade universal de férias.
http://viagem.uol.com.br/guia/brasil/sao-miguel-do-gostoso/index.htm
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