O Sol sempre brilha em Maceió.
Aqui tem praias de águas esverdeadas, falésias coloridas,
piscinas naturais que parecem aquários e calor, muito calor o ano
inteiro.
27 de Janeiro | Maceió, Brasil | por Tarcila Ferro
Vinte
e seis graus! Essa é a temperatura média anual da água nas praias de
Maceió, capital de Alagoas. O que isso quer dizer? Praia o ano
inteirinho, faça chuva ou faça sol! Se não bastasse, a costa alagoana
tem inúmeros trechos protegidos por arrecifes, deixando o mar calmo e
ideal para nadar. Além da temperatura e da calmaria, o que mais chama a
atenção é a cor da água, algo entre o azul e o esverdeado. Não é para
menos que o litoral do estado é considerado um dos mais belos
Maceió
também tem uma pegada diferente de outros locais badalados, como
Salvador e Porto de Galinhas. A cidade, por exemplo, é o lugar ideal
para quem deseja fugir de trio elétrico, micaretas e outros zum zum zum
de carnaval. Claro que em algumas praias o axé rola solto, mas não é uma
regra. Esse ar low profile faz com que o destino seja cobiçado por
casais, em especial os que estão em lua de mel, e pelas famílias com
crianças pequenas.
Para
aproveitar a cidade como ela merece, não basta ficar apenas no hotel ou
no resort, frequentar a praia mais próxima e, no máximo, esticar até
Maragogi. É até um pecado fazer isso. Suas sequências de enseadas
garantem dias de passeios por praias belíssimas e cenários dignos de
Caribe. O ideal é alugar um carro e garimpar alguns achados – pode ter
certeza que encontrará muita coisa boa.
Na
minha estada de quatro dias, montei um roteiro para conhecer a costa de
norte a sul. Minha base foi a Praia de Ipioca, local do hotel Salinas
de Maceió, a 25 quilômetros do centro da cidade. Aberto há cinco anos, o
irmão mais novo do já consagrado Salinas de Maragogi foge à regra dos
superlativos nos quais se baseiam outros resorts nordestinos. Com apenas
151 apartamentos, todos com varandas e dispostos em predinhos de
tijolos de três andares, ele conta com um restaurante, duas piscinas, um
spa e clubinho para a garotada.
É
um resort voltado para a família, com a vantagem de não cobrar a
estadia para crianças menores de 12 anos (desde que fiquem no mesmo
quarto dos pais). A prole fica muito bem acomodada nas suítes familiares
para até cinco pessoas e os apartamentos superiores recebem até quatro.
A comodidade do sistema all inclusive, com seis refeições (exceto
bebidas), também é um motivo a mais.
Quem
está em lua de mel pode aproveitar alguns mimos, como um jantar
especial de núpcias servido na cabana de sapé em frente ao mar. O
primeiro café da manhã dos recém-casados também chega fresquinho no
quarto e roupões e pantufas têm o nome do casal grafado.
Eu
poderia ficar tranquilamente os quatro dias ali só curtindo as
mordomias e a boa vida no resort. Mas, como eu disse, não explorar
Maceió é um pecado.
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O Clube de praia Hibiscus Alagoas é uma
ótima alternativa na praia de Ipioca. Música ambiente, camas suspensas, e
o ótimo restaurante garantem um dia de puro relax à beira mar |
Sem
deixar a praia de Ipioca, fui conferir o repaginado clube de praia
Hibiscus Alagoas, aberto dentro do condomínio Angra de Ipioca. Apesar de
estar em uma área restrita, o acesso aos visitantes é liberado. O
Hibiscus fica à beira-mar e sua estrutura é composta por um restaurante,
piscina, redário, tendas para massagem e parquinho para os pequenos.
Para entrar é preciso pagar R$ 15. O espaço é tranquilo, sem muvuca e
axé. Os banhos de sol e de mar são embalados pelo som ambiente. Não há
espreguiçadeiras nem cadeiras na areia – quem quiser tomar sol pode
deitar em uma das “camas” colocadas sobre uma estrutura alta de madeira.
O colchão fofinho garante deliciosas sonecas.
No
restaurante, o forte são os pratos com pescados e frutos do mar.
Grandes, eles servem até duas pessoas. Os pedidos são feitos na hora que
a pessoa chega, como uma pré-reserva. Aí é aproveitar a manhã inteira
na praia e, na hora em que a fome bater, basta voltar ao restaurante e
esperar alguns minutinhos. O sistema é ótimo na alta temporada, pois
evita longa espera pela comida na mesa. Quem não quiser almoçar, pode
ficar só na cervejinha e nos petiscos, servidos nas mesinhas que ficam
sob o coqueiral.
E
praia boa não precisa ser curtida apenas durante o dia. Quando o sol se
recolheu, segui para Pajuçara, point da night maceioence. Lá fica a
feirinha de produtos locais mais bacana da cidade, o Pavilhão do
Artesanato, que reúne cerca de 150 artesãos.
As
barraquinhas são bem organizadas e muitas aceitam cartões de crédito –
uma mão na roda, vale dizer. Por ali, as pedidas são trabalhos feitos
com a colorida renda filé, típica de Alagoas, e que está prestes a se
tornar Patrimônio Cultural do estado. Com ela, as rendeiras criam
centros de mesa, toalhas, jogos americanos, blusas, saídas de praia e
muito mais.
Xeretando
um pouco, descobrem-se bolsas feitas com palha de buriti, luminárias
super estilosas criadas a partir de cabaças (um tipo de fruto), bijus de
capim dourado... Eu me empolguei com as sandálias rasteirinhas
confeccionadas em couro de jegue – levei duas de uma vez (R$ 25 cada).
Também
há comidinhas, em especial, as castanhas, vendidas dos mais variados
jeitos: torradas, assadas, salgadas ou caramelizadas. Manteiga de
garrafa, cachaça e licores são outras opções.
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O
Grupo Salinas conta com dois resorts na cidade: a unidade de Maragogi é
um sucesso na região há mais de duas décadas; a de Maceió acabou de
completar cinco anos |
Comprinhas
feitas e a noite mal tinha começado. Como céu estrelado e calor pedem
uma esticada, o bar Lopana foi a escolha. Ele fica em Ponta Verde, praia
vizinha a Pajuçara. Juntas, elas concentram o maior número de hotéis e
restaurantes da capital. É delas também os trechos de orla mais
animados.
O
bar esparrama-se sobre um deque que acomoda mesinhas de madeira,
ombrelones e um pequeno palco em que bandas se revezam durante os dias
da semana tocando MPB, bossa nossa e rock nacional.
Os
pedidos dos clientes são computados em terminais em formato de prancha
de surfe e o cardápio empolga com caipifrutas e entradas como caldo de
camarão, filé de agulhinha frita e o onipresente sururu, o molusco mais
amado de Alagoas. Além de petiscar no bar, dá para jantar e experimentar
apostas da casa. O Peixe à Bananeira e o Arroz com Polvo são só alguns
exemplos. O bar tem uma área envidraçada, com ar-condicionado, local
onde estão expostas suas melhores garrafas de whiskies e
vinhos.
Rumo ao Sul
A
ligação entre o norte e o sul do estado é feita pela AL-101. A rodovia
conta com pouca sinalização e o asfalto judiado em alguns trechos pede
atenção dos motoristas. No sul, os meus destinos eram as praias do
Francês, Barra de São Miguel e Gunga.
O
Francês foi a enseada com a cara mais baiana que encontrei em Alagoas.
Muita gente e barracas com o som alto são comuns por ali. Os ambulantes
também circulam aos montes e passam oferecendo lagostas de tamanhos bem
generosos, como no caso do vendedor José Ignácio. “Sirvo elas grelhadas
na manteiga de garrafa e aceboladas”. O tamanho, segundo ele, justifica
o preço de R$ 70 cobrado por uma porção com oito lagostas.
Perto
dali, Barra de São Miguel é o oposto do Francês. Tranquila e com areia
quase vazia, ela é a escolha dos endinheirados do estado, com suas
casas de veraneio. Suas águas calmas são um convite para esticar um
pouco mais. De São Miguel partem pequenas embarcações que levam à Praia
do Gunga, passando por um banco de areia e piscinas naturais.
Os
barquinhos acomodam até sete pessoas e o passeio inteiro dura cerca de
40 minutos (R$ 30). A primeira parada é em uma piscina natural. O
condutor munido de ração faz com que os peixes comam na sua mão. Ele dá
um pouco para os passageiros, que repetem o gesto e adoram. A outra
parada é no banco de areia para um mergulho e para tomar água de coco e
coquetéis geladinhos. Isso mesmo, em pleno mar um barquinho faz as vezes
de bar e serve drinques na água, com direito a mesas e cadeiras
colocadas nas partes mais rasas.
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Passeio de bugue pelas falésias da Praia do Gunga |
Por
fim, chega a Praia do Gunga. Confesso que, quando me deparei com várias
mesas e cadeiras de plástico na areia, tendinhas de suvenir e bares sem
nada de tão especial, fiquei sem entender por qual motivo ela é tão
famosa. Bastou poucos minutinhos para descobrir.
Ela
é dominada por um imenso coqueiral, que cria um cenário desconcertante
em conjunto com a cor do mar e o branquinho de suas areias. O burburinho
maior fica concentrado em apenas um pequeno trecho do pontal,
principalmente na área em que acontece o encontro da água do mar com a
Foz da Lagoa do Roteiro. Essa junção deixa a água calminha e ótima para
nadar. Essa é a área mais movimentada, o restante é um sossego só.
Mas
o visual do Gunga conta com uma carta na manga: suas falésias. Para
chegar até elas, contratei um bugue (R$ 30 por pessoa) e fui sacolejando
pelas areias fofas por oito quilômetros. Na época da desova das
tartarugas marinhas, os veículos fazem o trajeto pelo coqueiral.
O
conjunto de rochas esculpido ao longo dos milênios pela natureza e que
ganhou diversos tons de vermelho e laranja cria um contraste lindo com o
azul do mar. Dá para caminhar, subir em uma das rochas e tirar muitas
fotos. A beleza da região serviu como cenário para trechos do filme
Paraísos Artificiais e para a série o Bem Amado.
Perto
das falésias, corre uma nascente de água doce que vale um gostoso
mergulho. A argila de diferentes cores encontrada nas margens faz com
que todo mundo passe um pouquinho no corpo e no rosto.
Antes
de deixar o Gunga, fui xeretar a barraquinha de tapioca. A vendedora
quase me convenceu a pedir uma recheada com sururu, – segundo ela, “o
maior afrodisíaco da região”. Melhor não. Acabei escolhendo a de
camarão.
Aquário natural em Maragogi
A
menina dos olhos em Alagoas atende pelo nome de Maragogi. Bem ao norte
do estado, quase em Pernambuco, a área reúne um conjunto de piscinas
naturais que figuram entre os mais belos do mundo. O passeio por suas
galés foi o responsável por colocar Maceió no mapa do turismo nacional.
Situada
em uma Área de Preservação Ambiental (APA), as piscinas são apenas um
trechinho da enorme barreira de corais que corta o nordeste. São quase
1800 quilômetros que se estendem do Maranhão ao sul da Bahia, sendo
considerada a segunda maior do mundo, perdendo apenas para a
australiana.
Os
tours partem de manhã cedindo e são pautados de acordo com o que a
tábua das marés prevê para o dia. É por esse modo de medição que as
embarcações sabem a melhor hora para realizar os passeios, que devem ser
feitos com a maré baixa. Eles custam em média R$ 60 e duram cerca de 3
horas. Pague mais R$ 10 pelo snorkel e a máscara, itens imprescindíveis
para esse mergulho.
Os
barcos navegam cerca de seis quilômetros até chegar às galés. Pelo
caminho, o mergulhador que acompanha o grupo faz os devidos avisos. “Não
é permitido pegar uma conchinha sequer e atenção para não pisar nas
partes escuras”. As partes escuras são os corais, que costumam ter
pontas afiadas e muitos ouriços cheios de espinhos – uma pisada neles
acaba com a viagem de qualquer um.
O
mais gostoso é que as piscinas são rasas e, mesmo com poucos metros de
profundidade, enxerga-se cerca de 18 tipos de corais e 25 espécies de
peixes. Havia pessoas no meu barco que não sabiam nadar e, mesmo assim
curtiram o passeio. A experiência fica ainda melhor para quem contrata o
serviço de mergulho de cilindro e vê tudo isso ainda mais de perto.
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O mergulho nas piscinas naturais de Maragogi é a atração mais procurada da região |
Como
trata-se do principal ponto turístico, tudo vira comércio. Fotógrafos
afoitos te seguem até na água para registrar o seu momento nas piscinas.
Quem adora são os casais que tiram fotos dando beijinhos debaixo
d'água.
Na
volta de Maragogi até a praia de Ipioca, onde eu estava hospedada,
foram 96 quilômetros. No retorno, aproveitei para conhecer a praia de
Paripueira e seu animado bar e restaurante Mar & Cia. Ao todo, são
cinco quiosques espalhados pela areia, atendidos pelo restaurante que
capricha em petiscos como casquinha de siri e o sururu ao leite de coco.
Lagosta, camarão e peixes grelhados aparecem em diversas combinações e
versões.
O
restaurante também serve como ponto de partida para passeios de lancha
até a Praia de Carro Quebrado e para as piscinas naturais de Paripueira.
Esses locais já estão na minha lista quando eu voltar a Maceió – viagem
que, com certeza, farei logo, pois já estou com saudades.
Tarcila Ferro viajou a convite dos hotéis Salinas de Maceió e Salinas de Maragogi
http://www.revistaviajar.com.br/artigos/ler/762/o-sol-sempre-brilha-em-maceio#.U3-mhCjW_vw