segunda-feira, 12 de maio de 2014

Paris em 6 balades

Descubra seis passeios a pé a partir das principais estações de metrô da capital francesa, unindo os cartões-postais a lugares pouco conhecidos, mas igualmente imperdíveis

07 de Maio | Paris, França | por Ana Ferrareze

Quando cheguei a Paris, em setembro de 2011, ainda no avião, a música de despedida dos tripulantes do voo direto da TAM era Samba e Amor, do Chico Buarque. Foi meu último "até logo" ao Brasil, para onde sabia que voltaria só um ano depois. Desembarquei no aeroporto Charles de Gaulle com duas malas cheias e um visto de estudante. Tentava controlar a ansiedade, afinal, não precisava de pressa: teria pelo menos 365 dias para me perder em todas as ruas da Cidade-Luz. Todas, todinhas. Doce ilusão. Paris é inesgotável. E está nos desafiando o tempo todo com sua história instigante e uma constante transformação urbana, social e cultural. Há muitos motivos para voltar. Afinal, já dizia Audrey Hepburn, “Paris é sempre uma boa ideia”.
E é pequena. Dizem que é possível atravessá-la de norte a sul em pouco mais de duas horas, caminhando. De metrô, você faz o mesmo em minutos. São cerca de 300 estações, divididas em 16 linhas, mais as cinco do RER (o trem). Mas resista à tentação de chegar mais rápido com o transporte público. Não à toa, foram os franceses que inventaram o verbo flâner (flanar), que significa andar sem rumo. Não há melhor maneira de conhecer Paris do que a pé. As surpresas que você encontra pelo caminho são tão interessantes quanto os cartões-postais que sonha em ver ao vivo.
O mais gostoso é se deixar surpreender. Conheça uma balada flutuante às margens do Sena, tente não tropeçar no chão de paralelepípedos da rue Mouffetard, compre um pain au chocolat na boulangerie do bairro e aprecie, de nariz para cima e boca aberta, o peitoril florido das construções antigas, tão enigmáticas, do Quartier Latin. Um dos meus exercícios favoritos era imaginar quais delas abrigaram encontros regados a vinho de personalidades de todas as épocas, como Hemingway, Picasso e Gainsbourg. Quantos se apaixonaram por Paris e nela viveram seus picos de inspiração, loucura, paixão.
Separei Paris em seis balades, como os franceses se referem aos passeios a pé, que misturam os incontournables (incontornáveis) às atrações menos conhecidas, também merecedoras de nossa atenção. Os pontos de partida são algumas estações-chave de metrô, pelas quais todo mundo acaba passando mais de uma vez. Você vai ver, Paris cabe na palma da mão.
Fórum Les Halles
1. Bienvenue à estação Les Halles
A mais temida das estações pode ser comparada à Sé de São Paulo. É a mais central, portanto a mais cheia – e maior, e mais fedorenta. Problemas de Paris: o metrô realmente não cheira bem. Mas, desde que nos leve a todos os lugares, não há do que reclamar. Entre um souris (ratinho) e outro na plataforma, pensamento positivo!
Dentro da estação há um centro comercial, o Forum Les Halles, que como a própria está sempre lotado, mas é ótimo para fazer compras rápidas. Nele você encontra muitas marcas populares famosas, como Sephora, H&M e Fnac. Algumas butiques chiques também aparecem pelo caminho. E,  lá fora, um centrinho comercial lembra um camelódromo de suvenires mais organizado.
Pegue a saída St-Eustache para visitar essa igreja pouco conhecida. O interior dela é belíssimo, inspirado na Notre-Dame. Morei um tempo ali perto e marcava ponto todos os domingos, às 17h30, durante a audição do órgão. Nessa hora o instrumento é executado com maestria por um convidado. A melodia grave acalma, enquanto alcança cada canto da igreja.
E olha que calma não é a palavra mais apropriada àquela região. Além do burburinho de Halles, duas ruas gastronômicas deixam o ambiente mais saboroso – resquícios do antigo mercado de carnes, verduras e frutas que funcionou na região até os anos 1960.
A Rue Montmartre, tomada por bares e restaurantes animados, quase me enlouquecia com suas lojas de cozinha, Mora e La Bovida. A primeira, em especial, tem tudo o que um confeiteiro (ou pâtissier), precisa para ficar mais chique. Outro ponto imperdível: Librairie Gourmande, uma livraria especializada em publicações sobre gastronomia.
A outra é a Montorgueil, que parece unir tudo o que há de bom no mundo gourmet: queijaria, boulangeries, pâtisseries, adegas, lojas biológicas, barracas com legumes e frutas fresquinhos. Leva qualquer um que gosta de comer bem ao delírio. Eu gostava de tratá-la como uma feira livre, escolhendo os produtos com calma em cada estabelecimento.
Centre Pompidou
Perto dali, o Centre Pompidou muda o cenário. É um choque de contemporaneidade com seus canos coloridos e uma estrutura gigantesca. Certa vez, uma amiga o definiu perfeitamente: ele parece o esqueleto de uma máquina.
Não é difícil passar o dia todo entre as salas com Picasso, Georges Braque, Chagall e outros tantos artistas modernos. Fora a exposição permanente, há sempre uma temporária imperdível no último andar – e filas que parecem intermináveis.
Para mim, o passeio só acabava depois de uma passadinha nas duas lojas do térreo, entre postais, livros e objetos de decoração. Em frente ao museu, há outras genéricas, que geralmente seguem o tema em cartaz.
Minha caminhada, depois do Pompidou, tinha direção certa: o Marais. Passava babando pelas lojas de grifes da Rue de Rivoli, mas não tanto como quando avistava, ainda ao longe, o edifício do Hôtel de Ville, o prédio da prefeitura. As fontes em frente a ele são tão bonitas que nos fazem esquecer o fato de que aquela mesma praça foi um dos principais locais de execução na forca e na fogueira.
 
Marais 
Quando se anda entre os edifícios elegantes desse bairro, ninguém imagina que Marais significa pântano. Pois é. A sorte dele começou a mudar no fim do século 16, quando o rei Henri IV construiu a atual Place de Vosges e com isso atraiu a chegada de várias mansões. Morar perto da casa real era questão importante para as famílias aristocratas. Hoje, essas mesmas construções ainda estão lá, transformadas em museus, hotéis e restaurantes.
Em uma delas, inclusive, fica o Musée Picasso, previsto para reabrir em junho deste ano, após quatro anos conturbados e polêmicos de reforma – a estimativa era terminar o projeto em dois anos. Problemas à parte, ali se encontra o acervo mais completo do pintor espanhol, com mais de 5 mil obras.
Ele fica no chamado Haut-Marais, a parte norte do bairro, onde o Marché des Enfants Rouges é perfeito para um almoço. O mercado de comidas mais antigo de Paris, de 1610, não faz feio: entre barracas de flores e verduras, outras servem pratos italianos, marroquinos, libaneses, japoneses e, claro, franceses, muito bem representados pelos crepes do Alain. As mesas são coletivas, o que torna o clima ainda mais conviviale.
Essa é a parte mais hypada do bairro, influenciada por bares e restaurantes moderninhos, que se multiplicam da mesma forma que espaços de arte, moda e design. A cena GLS também é forte por aqui.
Outro museu nas redondezas reais é o Carnavalet, que conta toda a história de Paris em pinturas, esculturas, maquetes e móveis. Uma aula que continua depois da exposição, já que ninguém sai de lá o mesmo observador. É emocionante pensar que os lugares pelos quais você acabou de passar estão ali, retratados nas telas.
Casnavalet
Passeie pelo centrinho gastronômico das ruas des Rosiers, des Archives e Vieille du Temple, tão charmosas. Conhecida área judaica, encontramos alguns restaurantes hebraicos, como o L’As du Fallafel, famoso por ter os melhores falafels de Paris (aquelas bolinhas fritas, feitas à base de grão-de-bico, que vêm enroladas em pão, com salada e molhos). As filas são enormes, mas o tempo passa rápido graças ao atendimento sempre animado e eficiente.
De sobremesa, dê mais uma voltinha e escolha um doce típico ou frutas secas em uma das vitrines. As tâmaras são divinas. Ou então chegue cedo ao Les Philosophes para provar a tarte tatin, antes que ela acabe.
 
2. Bienvenue à estação St-Michel
Esta é uma das minhas balades preferidas. Ela começa em Saint Michel, atravessa o Sena, chega à Notre Dame e parte para o Quartier Latin. Gosto dela por conta da diversidade. Sabe onde a caminhada termina? Na Mosquée de Paris, uma mesquita, o centro espiritual dos muçulmanos na capital francesa.
Tem quem se sinta em Paris quando avista a torre Eiffel, de perto ou longe. Para mim, nada mais parisiense do que um pôr do sol visto sobre uma das emblemáticas pontes que cortam o Sena. Ou então nas escadas e passarelas à beira do rio, com alguns petit fours à partager (quitutes para dividir).
Saindo do metrô St-Michel, você cai no mundo turístico. Em poucos lugares do mundo há um sistema tão organizado para atrair o público – e não há quem saia de lá sem pelo menos uma miniatura da torre.
Atravesse a Pont Saint-Michel para chegar à Île de la Cité, o berço de Paris. Foi nesse pedaço que o imperador romano Júlio César chegou em 53 a.C., tornando-o o centro do poder político francês por um longo período. A Igreja Notre Dame, joia gótica da ilha, começou a ser erguida em 1163, mas só foi concluída em 1330, 167 anos depois. Hoje, milhares fazem fila para admirar seus vitrais em forma de rosáceas, as torres duplas e as famosas gárgulas que a protegem. A vista do alto da torre norte é de cair o queixo. Na saída, artistas de rua fantasiados de corcunda brotam por todos os lados. Se quiser uma foto, não se esqueça da recompensa, para não irritá-los.
Rio Sena e Notre Dame
Perto dali, a menos célebre, mas igualmente magnífica, Sainte-Chapelle surpreende com seus vitrais. Eles são 15 e retratam cenas bíblicas, ao mesmo tempo em que provocam um efeito de luz colorido, que mergulha os visitantes numa espécie de caleidoscópio conforme a luz do sol é refletida. Ela foi construída em 1248, com o objetivo de abrigar a suposta coroa de espinhos usada por Cristo, hoje na Notre Dame.
Voltando em direção ao metrô, escape dos senhores de boina que convidam a provar uma formule (menu) nos restaurantes turísticos, e enganosamente charmosos, das ruelas estreitas de pedra, como a Rue de la Huchette. Bem-vindo ao Quartier Latin, antigo centro cultural, boêmio e artístico parisiense.
Uma prova dessa efervescência criativa está na Rue de la Bûcherie, 37, na livraria anglo-saxônica Shakespeare and Company. Criada em 1951, o lugar é um caos charmoso, com paredes cobertas de livros empoeirados. Na parte de cima, ficam alguns clássicos doados por Sylvia Beach, dona da homônima livraria que inspirou a criação da atual – e a preferida de escritores como James Joyce, Fitzgerald e Hemingway. Esses, só podemos folhear e devolver ao lugar. Mas se quiser uma boa lembrança, o clássico Paris é uma festa é vendido aos montes.
 
Quartier Latin
A boemia do Quartier Latin ainda não foi completamente tomada pelo apelo turístico por conta da Sorbonne, universidade fundada em 1253. Jovens estudantes dominam a área antes e depois das aulas.
Em frente a ela, está um clássico: o Panthéon, com seu pórtico de 22 colunas, inspirado no romano, e uma enorme cúpula em ferro. Depois da revolução, essa antiga igreja fundada em 1790 se tornou o jazigo de grandes “homens da pátria”, como Victor Hugo e Émile Zola. Logo após a entrada, o pêndulo de Foucault, que prova a rotação da Terra, foi retirado por conta de reformas e só voltará daqui a dois anos. Para compensar, a subida até o topo é cansativa, mas garante um dos melhores ângulos de Paris.
Logo em frente, o Jardin du Luxembourg fica ainda mais convidativo após tantos degraus. Sempre achei incrível como a região consegue aliar sossego e agito. Mesmo sendo uma das mais disputadas de Paris, não deixa seus visitantes em pé. Em qualquer hora que você visite o jardim, vai encontrar um banco para relaxar. E, se der sorte, ao som de jazz ou blues vindo do coreto. Vira e mexe, estudantes de música também ganham uns trocados do lado de fora dos portões, em fanfarras animadíssimas.
Os jardins são enormes. Entre eles, surgem estátuas do século 19 e belas fontes. Faça como os franceses e estique-se para tomar sol nas bordas do lago em frente ao Palais de Luxembourg, a sede atual do Senado francês. Anexo ao último, o Musée du Luxembourg sempre tem uma exposição temporária. Dê uma olhada na programação – até 12 de junho, está em cartaz a mostra Josephine, sobre a primeira mulher de Napoleão Bonaparte, imperatriz da França até 1810.
Jardin du Luxembourg
Agora, começa uma das partes mais deliciosas do caminho. Atravesse o Panthéon e siga na bifurcação Place du Panthéon. Nessa esquina estão as escadarias da igreja Saint-Etienne-du-Mont, que aparecem no filme Meia-noite em Paris, do Woody Allen. É onde o personagem Gil, de Owen Wilson, senta nos degraus para esperar a carruagem e viajar no tempo.
Entramos em outro mundo um pouco mais a frente, onde a portinha da Crocodisc, uma das melhores lojas de discos que já conheci, passa quase despercebida. Ela é especializada em jazz e blues, assim como o vendedor, um senhor bom de papo. Há de raridades até lançamentos. Outras duas filiais ficam na Rue des Écoles, a mesma da Sorbonne, a poucos quarteirões, com estilos musicais diferentes.
Na primeira vez que saí de lá, tinha em mente o bar Le Piano Vache. Ele fica em uma rua bem estreitinha, onde só os habitués sabem chegar: a Rue Laplace. Repare em todas as placas e você não terá problemas. O clima do bar é bem alternativo, com iluminação fraca e cartazes grudados nas paredes. Na sala ao fundo, que abre durante as noites de segunda-feira, rolam shows de jazz fantásticos. E o melhor, de graça. As pintes aqui saem por 5 euros. Programaço.
Nessa região também fica a Place de la Contrescarpe, com bares animados, como o The Wall, e a Rue Mouffetard, uma das mais charmosas e antigas de Paris, que começa logo depois da praça. No tempo dos romanos, ela ligava a capital francesa a Roma. Hoje, conserva o chão de pedras e placas antigas entre suas muitas lojas e restaurantes. O melhor dela: um mercado ao ar livre, de terça a domingo. Eu nunca saía de lá sem pelo menos alguns tomates bem vermelhos, queijos e morangos suculentos.
Passando pela Place Monge (onde fica a estação de metrô mais próxima da Mouff), siga em direção à Grande Mosquée de Paris. Essa mesquita foi construída na década de 1920 e não só garante uma imersão na cultura muçulmana como oferece banhos turcos e um restaurante-café todo decorado com mosaicos coloridos. Um ponto de encontro certeiro. Tome um chazinho de menta no jardim depois de comer o cuscuz com cordeiro – o grão está entre as preferências na mesa dos franceses. 
Para encerrar a balade, uma volta pelo Jardin des Plantes, um dos primeiros jardins botânicos da França, cai bem. Além das trilhas e passeios rodeados por árvores, o parque aloja três museus: de Paleontologia, de Mineralogia e uma Galeria da Evolução. Fora um zoológico muito divertido para as crianças – tem até canguru! – e estufas incríveis de plantas tropicais.
 
3. Bienvenue à estação St-Germain-Des-Pres
Uma das regiões mais elegantes de Paris, a preferida da sociedade intelectual dos anos 1950, St-Germain-des-Près ainda é agitada, com cafés e restaurantes históricos e outros novinhos em folha.
Beba um chocolate quente no Café de Flore ou no Les Deux Magots, imaginando quantas discussões filosóficas brotaram naquelas mesas. Foi no primeiro, por exemplo, que Sartre e Simone de Beauvoir desenvolveram a filosofia do existencialismo. Mas tanta fama tem seu preço: estão sempre lotados.
Deixe-se levar pelo Boulevard St-Germain, marcado pela arquitetura homogênea e reta da reforma urbana do barão de Haussmann, que mudou a cara da capital entre 1853 e 1870, a pedidos de Napoleão III. As lojas de grifes atraem famosos e endinheirados.
Mas o ponto alto do bairro fica com o Musée D’Orsay, antiga estação ferroviária que se tornou um museu surpreendente. O acervo é uma continuação cronológica do Louvre, com obras de 1848 a 1914, principalmente impressionistas (também pré e pós). Uma das coleções mais completas de Van Gogh está lá, incluindo a obra A Noite Estrelada. A sala do pintor holandês é, sem dúvidas, uma das mais marcantes. 
Musée D'orsay
Se achou o Orsay bonito por dentro, espere para vê-lo de fora, em um piquenique na área revitalizada às margens do Sena, as berges de Seine. O projeto da prefeitura de Paris devolveu as margens do rio aos pedestres, já que há anos elas serviam como via rápida de automóveis.
A rive droite (margem direita) foi inaugurada em 2012, indo da Pont Royal (altura do Louvre) até a Pont Alma (próxima à torre Eiffel). Calçadas foram ampliadas e espreguiçadeiras, instaladas.
No ano passado, a esquerda ficou pronta. E começa justamente no Orsay, terminando na mesma altura que a direita. Em frente ao museu, uma arquibancada já virou ponto de encontro de muita gente. Nessa parte do rio, o objetivo é outro: brincadeiras e diversão. Tabuleiros e jogos foram pintados no chão de asfalto. E o melhor: criaram banheiros públicos. O maior problema em piquenicar às margens do Sena é achar um lugar para fazer xixi, depois de alguns copos de vinho.
 
Do outro lado da ponte – Louvre e Tuileries
Atravessando a Pont Royal, a partir do Musée D’Orsay, chegamos à área das Tuileries, quando o luxo histórico da monarquia se encontra com o dos hotéis, lojas e restaurantes modernos. Aqui está o Louvre, dono da memorável coleção de mais de 300 mil peças, de antiguidades egípcias e romanas até obras europeias a partir do ano 1100.
Mesmo que tenha pouco tempo de viagem, não caia no erro da maioria dos turistas brasileiros, que entra pela pirâmide de vidro e aposta corrida para chegar mais rápido na sala da Mona Lisa. A pintura de Leonardo da Vinci é mesmo impactante, mas o museu vai tão além... O próprio já é uma obra de arte, decorado do piso ao teto. Como não dá para absorver tudo nem em meses, é uma boa conferir as sugestões de roteiro no site do Louvre. A partir de então, aproveite ao máximo, sem pressa.
No Jardin des Tuileries, as árvores podadas com maestria, alinhadas e iguais, lembram o tempo dos reis. Entre um passo e outro, fontes e estátuas aparecem – e muitas vezes viram banheiro de passarinho, ossos do ofício.
A visita ao Musée de l’Orangerie é obrigatória, principalmente pelas Ninfeias de Monet, divididas em duas salas ovais. Temos a impressão de entrar num aquário, onde nada mais importa a não ser a paz que as pinturas transmitem. Nesse museu, há obras de Picasso, Renoir, Modigliani, Matisse. E também uma das estruturas mais bonitas de Paris, boa parte envidraçada e com iluminação natural única.
Logo em frente, o Jeu de Paume é para quem gosta de fotografia e arte contemporânea. A galeria tem boas exposições em cartaz e uma loja com excelentes livros especializados nas áreas.
Interior do Louvre
Chegando à Place de la Concorde, estamos a apenas alguns passos da Champs-Elysées. Empolgados para chegar o mais rápido possível ao maior templo de luxo e consumo de Paris, muita gente deixa a praça passar batida. Mal sabem que ela é uma das mais históricas da Europa, antigo palco da temida guilhotina, que cortou a cabeça de personagens como Maria Antonieta e Robespierre. Foi revitalizada no século 19, quando já se chamava Concórdia e só queria saber de paz. O obelisco egípcio no centro tem mais de 3 mil anos.
Em frente a ela, a avenida surge suntuosa, com suas lojas de grifes e o vai-e-vem de pessoas elegantérrimas, que parecem recém-saídas de um filme. Caminhe babando por suas vitrines até o Arco do Triunfo, que fecha a rua e fica ainda mais bonito à noite, iluminado. Uma dica: há uma passarela subterrânea para chegar até ele – na primeira vez em que fui, parecia uma louca atravessando a rua no meio dos carros, achando que era a única maneira de chegar. Acontece. Esse monumento foi encomendado por Napoleão e hoje é ponto de partida de 12 importantes avenidas e de todas as comemorações nacionais da França.
 
4. Bienvenue à estação Cité Universitaire
Os portões da Cité Internationale Universitaire estão praticamente em frente à estação do RER. Essa pequena cidade ao sul de Paris tem cerca de 5 mil habitantes, a maioria estudante, como eu, artista ou atleta. É um dos únicos lugares do mundo, se não o único, onde mais de 140 nacionalidades convivem diariamente em paz. E o melhor: em um parque cheio de árvores, com 40 maisons (casas) temáticas, cada uma representando um país. Construídas de 1923 a 1969, elas já receberam ilustres moradores, como Sartre – que, inclusive, viveu o início de seu romance com Simone de Beauvoir por ali (olhem eles aqui de novo).
Se jogue no gramado verdinho (a pelouse) para tentar entender dezenas de idiomas diferentes e acompanhar os músicos e jogadores de pétanque (lembra bocha). Aproveite para puxar papo com eles e descobrir qual é a programação da semana. Todas as casas organizam ótimas festas e concertos.
Logo em frente fica o Montsouris, mais um dos 463 parques e jardins de Paris. Outro lugar onde você pode exercitar a arte parisiense de piquenicar, verbo não muito usado pelos brasileiros, literalmente. Um dos meus grandes prazeres era ir ao supermercado, encher a sacola de vinhos, queijos e charcuterie da melhor qualidade, lançar mão em umas duas baguetes e me estender na grama com os amigos. Geralmente ficávamos até o sol se pôr e um guardinha começar a apitar, avisando que o parque fecharia em breve. No Montsouris, a atração é um lago, onde cisnes deslizam despreocupadamente.
Arco do Triunfo
O sul da capital francesa é muitas vezes esquecido pelos turistas, já que há tanto para se ver e fazer no centro – o que os parisienses adoram. No entanto, vale a pena se embrenhar nessa área desconhecida, principalmente no 13ème arrondissement (distrito administrativo; Paris é dividida em 20 deles), tranquilo e residencial, mas sempre com novidades. Ele passou por uma reformulação nas décadas de 1960 e 1970, quando ganhou até arranha-céus e se transformou em um dos bairros mais modernos da cidade.   
Entre a Cité e o Montsouris, passa uma linha de tramway, ou simplesmente tram, um dos meios de transporte mais fáceis em Paris. Com ele, você chega ao chamado quartier asiatique. Desça na estação Porte d’Ivry e entre na Chinatown parisiense, onde até a fachada do McDonald’s é em chinês. Lá se encontra toda sorte de restaurantes asiáticos. Fora os mercadinhos de rua e a rede Tang Frères, especializada em produtos orientais, que vende chás, massas, frutas, carnes e por aí vai.
Agora, se quiser mesmo um bom restaurante francês, perto dali fica a Place d’Italie. A partir de Ivry, a caminhadinha é boa, mas de metrô é mais rápido. Passe reto pelos restaurantes turísticos e siga em direção à Rue Buttes-aux-Cailles, uma das mais singulares de Paris – e pouco conhecida pelas hordas de turistas. A área lembra uma vila e, como a tradução do nome indica, “Colina das Codornas”, fica em uma pequena colina arborizada. Temos a impressão de chegar a uma cidadezinha do interior da França. E também em outro tempo. Lampiões e janelas antigos, bistrôs e cafés charmosos, floreiras coloridas e árvores frutíferas dão um toque especial às ladeiras.
Voltando ao tram, chegue à Bibliothèque François Mitterand, um dos grandes ícones da arquitetura moderna da região. Desde 1996, mais de 12 milhões de volumes, fora um rico acervo multimídia, fazem parte das quatro torres espelhadas que se destacam à beira do Sena, lembrando dois livros abertos. A biblioteca conta com um espaço de leitura com mais de mil lugares reservados ao público.
Logo em frente, os quais (cais) do rio mais famoso do mundo começam a encher conforme a noite cai. Nele, barcos ancorados, as famosas péniches, se transformam em restaurantes românticos e baladas flutuantes, concorrendo com os bares que se estendem por toda passarela, onde um público moderninho disputa espreguiçadeiras para tomar suas pintes de cerveja. No Petit Bain, ancorado bem em frente à biblioteca, a programação de shows é extensa e diversificada.
 
5. Bienvenue à estação Pigalle
Para mim, a melhor parte de Montmartre está no fim do passeio, quando nossas pernas cansadas chegam ao topo da colina e a vista de Paris nos recompensa. Todo fim de tarde, ou início do dia, as atenções deixam a Basílica de Sacré-Coeur e se voltam ao sol. Ali, na escadaria da igreja, o astro sempre tem plateia.
A caminhada começa lá embaixo, onde cabarés como Moulin Rouge brilharam nos séculos 19 e 20. Não se iluda, a época áurea terminou há um bom tempo. Hoje, o espetáculo não passa de um pega-turista de 95 euros, dinheiro que pode ser muito melhor gasto com outras coisas.
Na Rue Lepic, por exemplo, que sobe de Pigalle até Montmartre. Faça comprinhas para comer lá em cima. Há boulangeries com baguetes fresquinhas, barracas de verduras e frutos do mar, queijarias, adegas e comidas prontas. É nela também que fica o Café des Deux Moulins, onde Amélie Poulain trabalhava no filme. Quando fui, pedi a formule café + crème brûlée, só para quebrar a casquinha do doce, como a personagem fazia. Coisa de fã. Mas não caia na besteira de almoçar ou jantar. Os preços são altos.
Place de La Concorde
Subindo, subindo, você vai sair na Place des Abbesses, que à noite lota por conta de seus bares e restaurantes. Procure o muro Je t’aime, um pouco escondido, onde a frase aparece escrita em 311 idiomas nos azulejos azuis. A diversão é tentar achar o seu. Demorei um pouco, mas consegui identificar nosso "Eu te amo".
Depois de tomar fôlego, arrume coragem para subir os lances de escada que levam até a Place du Tertre. Ela está a 130 metros de altura, o ponto mais alto de Paris, mas também a poucos passos da basílica. A grande atração são os pintores, que se oferecem aos visitantes para pintar retratos, e os restaurantes em torno de toda a praça.
Opiniões sobre a Sacrè-Coeur geram discussões. Grande parte dos franceses não gosta dela – segundo eles, falta elegância perto de queridinhas nacionais, como a Notre Dame. Já os turistas a adoram, tanto que sobem a colina sem pensar duas vezes. Posso afirmar que um ano não foi suficiente para me tirar desse último grupo – eu a acho linda. 
 
6. Bienvenue à estação Champ De Mars/Tour Eiffel
Não poderia deixar a Torre Eiffel de fora. Mas a coloquei no final, já que nenhum viajante se esquecerá de conhecê-la – mas corre o risco de deixar de lado tantos lugares interessantes, e menos comentados, o que é uma pena.
Para a dama de ferro, só tenho uma dica: não tem nada melhor do que deitar na grama do Champ-de-Mars, onde você fica mais perto dela, e dedicar horas à contemplação. É maravilhoso, de graça e você escapa de filas desgastantes. Tente ir na hora do pôr-do-sol, para registrar o momento em que ela acende e fica ainda mais bonita. Ah, e vale lembrar que, comemorando 125 anos em 2014, a torre vai passar por uma renovação. O primeiro andar, que fica a 57 metros de altura, deve ficar mais atrativo, com pavilhões de vidro, restaurante, loja e museu sobre o mais famoso cartão-postal de Paris!
Ali perto, não deixe de conhecer o Musée du Quai Branly, onde obras de arte contam a história dos cinco continentes, provocando reflexões sobre a origem de nossa cultura. Os instrumentos musicais africanos são incríveis.
Torre Eiffel
Nas redondezas está o Musée Rodin, antiga casa do ilustre escultor francês do século 19. Fora as peças apresentadas em ordem cronológica dentro da mansão, clássicos como O Pensador e a detalhista Portas do Inferno são encontradas pelos jardins, também ótimos para relaxar.
Já no Palais de Tokyo, a proposta é diferente. Esse museu é considerado o “espaço de arte contemporânea da Europa”. Não por menos. Suas exposições são sempre fantásticas e inovadoras, de artistas como Wang Du e o brasileiro Henrique de Oliveira.

Minha imaginação voou para lá agora – e deitou em alguma pelouse verdinha. Digo por mim e por vocês: Paris, até breve. Ou melhor, à bientôt!
 
Serviço
Moeda
Euro (€). € 1 = R$ 3,18 (até o fechamento dessa edição).
Fuso Horário
+ 3 horas em relação ao horário de Brasília.
Clima
O inverno, de dezembro a fevereiro, tem média de 7 ºC durante o dia, podendo cair para temperaturas negativas à noite. O verão, entre julho e setembro, tem registros em torno de 25 ºC.
Caminho Certo
11/ 3218 7140/ 3218 7140, iberia.com) faz o trajeto de São Paulo para Paris, com conexão em Madrid, a partir de R$ 2.324. A KLM (11/ 4003-1888, klm.com) voa direto a partir de R$ 2.442. Já a Air France (4003-9955, airfrance.com.br) tem bilhetes a partir de R$ 2.892, em voos sem paradas. Valores referentes a ida e volta, com taxas de embarque inclusas.
Na Rede
paris.fr
Operadoras
A Françatur (11/ 3149-3163,
francatur.com.br) conta com pacote de 8 noites com aéreo, hospedagem, passeios e seguro viagem por US$ 2.737. E a Soft (11/ 3017-9999, softtravel.com.br) oferece pacote de 4 noites com aéreo, hospedagem e seguro viagem por US$ 1.325.  

Consulte também
Flot: 11/ 4504-4500, flot.com.br
New Age: 11/ 3138-4888, newage.tur.br
Nascimento: 0800 774 1110 nascimento.com.br
 
Hospedar
Modern Montmartre Paris (3 Rue Forest, paris-modern-hotel.com) Próximo ao metrô e ao famoso cabaré Moulin Rouge, possui fácil acesso a lojas de departamento. Diárias para casal a partir de  79.
Hôtel Pavillon Opéra (38 Rue De L’Echiquier, pavillonopera.com) Com boa localização, este quatro estrelas fica perto do Museu do Louvre, da Catedral de Notre Dame e da Galeria Lafayette. Oferece wi-fi e traslado ida e volta ao aeroporto. Diárias para casal a partir de € 133.
 
Le Citizen Hotel (96 Quai de Jemmapes, lecitizenhotel.com) É um hotel-butique com design moderno e compacto, com apenas 12 quartos. Fica a uma curta distância da Gare du Nord e do Canal St. Martin. Disponibiliza wi-fi. Diárias para casal a partir de € 199.
 
Comer
Au p’tit grec (62 Rue Mouffetard) Creperia simples, mas famosa por ter o melhor crepe de Paris, a preços bem em conta. Diariamente, das 10h à 1h. $
Le Camion qui Fume (lecamionquifume.com) Um dos food trucks que estão fazendo sucesso na capital francesa, serve comidas fait maison (à base de produtos naturais). Consulte localização e horários no site. $
La Cordonnerie (20 Rue Saint-Roch, restaurantlacordonnerie.com) Nas quintas e sábados, ao comprar uma bebida, você ganha um prato de cuscuz. Um dia da semana serve os famosos moules et frites (mexilhões com fritas), também por conta da casa. $$
Le Grand Colbert (2 Rue Vivienne, legrandcolbert.fr) Refinado, o restaurante virou ponto de peregrinação turística depois de aparecer no filme Alguém tem que ceder. De domingo a terça, das 12h à 0h; de quarta a sábado, das 12h à 1h. $$$
 
Badalar
Les Disquaires (4-6 Rue des Taillandiers, lesdisquaires.com) Bar / balada com ótima programação musical na região boêmia de Bastille. De terça a sábado, das 18h às 2h.
Wanderlust (32 Quai d’Austerlitz, wanderlustparis.com) Uma das melhores baladas de Paris. Quintas, das 22h às 6h; sextas e sábados, das 23h às 6h.
Les Idiots (115 Bd. de Ménilmontant, tinyurl.com/l9tebyn) Disputado microbar de apenas 15 m², com shows, comidas como a planche de charcuterie (tábua de frios) e ótimos plats du jour (pratos do dia).
 
Gay
L’Imprevu (9 Rue Quincampoix, imprevu-cafe.com) Muito charmoso e com uma decoração bem original, é um bar-café para relaxar e tomar drinques com bons preços. Diariamente, das 15h às 2h.
 
Boas Compras
Galeries Lafayette (40 Bd. Haussman, galerieslafayette.com) O clássico endereço de compras em Paris oferece moda masculina, feminina e infantil, uma ala completa de produtos gourmet e outra de artigos para casa. De segunda a sábado, das 9h30 às 20h; quintas, das 9h30 às 21h.
Printemps (64 Bd. Haussmann, departmentstoreparis.printemps.com) Loja de departamentos com onze andares, cafés e restaurantes. De segunda a sábado, das 9h30 às 20h; quintas, das 9h30 às 22h. 

http://www.revistaviajar.com.br/artigos/ler/827/paris-em-6-balades#.U3C5ElfW_vw

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