Rota Ecológica de Alagoas tem cozinhas encantadoras em vilas de pescadores
Camila Fróis e Fernando Angeoletto (fotos)
Colaboração para o UOL, de Maceió
Quem avista pela primeira vez as singelas casinhas envoltas por
coqueirais ou caminha com água pelas canelas entre as piscinas naturais
quentinhas da Praia do Toque mal se lembra que está a menos de 100km de
Maceió, um dos destinos mais frequentados do Nordeste. De Barra de São
Miguel a Japaratinga, a chamada Rota Ecológica de Alagoas segue por
entre vilas de pescadores, alheias ao zum-zum-zum do mundo.
A
maior preocupação de quem vive ali é saber a hora em que a maré sobe ou
desce. Quando recua, é possível fazer longas caminhadas até os recifes
imersos em uma paisagem de azul infinito, que integra a segunda maior
costa de corais do mundo. Neste momento, as mulheres das comunidades
locais se dedicam ao paciente ritual de catar conchinhas de mariscos,
como a taioba e massunim, enterrados na areia. Enquanto isso, os homens
se aventuram em mergulhos além da costa de corais atrás das lagostas, em
uma espécie de caça submarina um tanto pitoresca.
As iguarias encontradas vão direto para as panelas dos chefs das
pousadas fincadas na areia de praias semidesertas, como São Miguel dos
Milagres ou Porto de Pedras. Camufladas na paisagem de Mata Atlântica
que se debruça sobre o mar, muitas delas ostentam cozinhas
despretensiosas, mas surpreendentes, sempre abastecidas por estes frutos
do mar fresquíssimos.
A culinária alagoana se vale de um
interessante intercâmbio cultural, pois alguns restaurantes são
comandados por italianos, franceses, israelenses, portugueses e
brasileiros, que escolheram esse cantinho silencioso do mundo para
desacelerar o ritmo e cozinhar divinamente bem. Por isso, mesmo que você
se hospede em apenas uma das pousadas do roteiro, a ordem é peregrinar
pelas diferentes opções das praias vizinhas e conferir o charme discreto
de cada uma, além dos cardápios exclusivos.
Vale ainda se
esticar até a popular praia de Maragogi, localizada a 20km depois de
Japaratinga, para conferir as criações do Festival de Lagosta (www.festivaldalagosta.com.br),
que acontece anualmente no mês de setembro. Encerrado o evento, os
pratos ficam disponíveis em cerca de 20 restaurantes participantes
durante um ano. O destaque de 2015 é o lagostim com risoto de coco do
Hotel Salinas, que combina as duas maiores preciosidades da região.
Também vale a pena experimentar criação do Hotel Areias Belas: uma
lagosta que leva banana da terra, manteiga e gengibre.
Conheça algumas pousadas que conquistaram seus hóspedes literalmente pelo estômago.
Pousada do Toque (São Miguel dos Milagres)
Pioneira, e a mais sofisticada da rota, integra a associação das
seletas pousadas de charme do Brasil. A fama da gastronomia premiada do
lugar faz jus à dedicação do chef e proprietário Nilo Burgarelli. Suas
criações conquistam os paladares mais exigentes com mimos como o mel de
flores e frutas do mangue, ingrediente que dá o toque exclusivo
no roesti de macaxeira recheado com moqueca de massunim. O mel, aliás, é
um xodó do chef. Também vai no lagostim com purê de abóbora e cuscuz de
milho, e ainda na mousse de coco com mel do engenho.
Ali, o
café da manhã não tem hora para acabar, mas a liberdade não termina por
aí. Além do cardápio premiado, os hóspedes tem acesso a uma
cozinha gourmet inteiramente à disposição. Os utensílios, temperos e
azeites dos mais diversos lugares do mundo ficam por conta. É só
reservar o espaço e avisar quais os ingredientes você pretende preparar
que a equipe deixa no ponto.
Pousada Amendoeira (São Miguel dos Milagres)
Com mesas espalhadas em cantinhos charmosos de um jardim à beira-mar, o
restaurante do estabelecimento, localizado na Praia do Toque, oferece
um cardápio pra lá de tropical. A responsável pelas criações, Jessy
Greenhut, investe em grãos integrais, robalos, lagostas e polvos, além
de hortaliças orgânicas colhidas na horta própria. O resultado são
pratos muito coloridos, leves e, ao mesmo tempo, de sabor intenso,
valorizados por uma apresentação caprichada.
Algumas propostas
do menu revelam as origens israelenses de sua família, e também do
marido e sócio Tsachi. Um exemplo é o filé de peixe em crosta cítrica de
amêndoas, acompanhado de cuscuz marroquino com legumes e abobrinhas
grelhadas. Outras opções não poderiam ser mais nordestinas, como o
sugestivo “Amarelo e Manga”: peixe grelhado com fatias de
banana-da-terra (muito típica da região) ao molho de manga, couve e
arroz com coco, limão, pimenta calabresa e folhas de rúcula.
Mesmo com tanta brasilidade junta, o azeite de curry dá o toque árabe. E
os pratos com camarões também são imperdíveis. Um deles é picante e
leva molho de coco com coco chips (crocante). Já o camarão pinguço é
flambado com cachaça e servido com abobrinhas grelhadas ao caramelo de
balsâmico – simples e apaixonante. A recepção dos anfitriões e
funcionários é para te fazer sentir absolutamente em casa. Quem não está
hospedado no local precisa fazer reservas.
Pousada Cotesud (São Miguel dos Milagres)
A francesa Corine, proprietária e comandante da cozinha, usa e abusa
dos peixes sazonais e das demais delícias da região. De sabor mais suave
que a ostra, a geleia dourada (extraída do ouriço), que tem um leve
aroma de maresia, parece uma descoberta gastronômica por aqui, embora já
seja muito apreciada na Europa, especialmente em receitas japonesas.
Como a grande paixão da chef é inventar moda, o cardápio é diverso,
fresco e está sempre repleto dos sabores do mar e dos mangues dos
arredores, inclusive nos recheios das massas preparadas na própria
pousada – vale conferir o canelone de siri.
Alguns pratos são
valorizados por técnicas simples de preparo, como os peixes grelhados na
churrasqueira aquecida com brasa de coco. O processo deixa as carnes
defumadas com um aroma delicioso do fruto. Outros mimos delicados estão
nas sobremesas. O cupcake, por exemplo, leva farofa de speculoos,
biscoito belga, típico da região de Flandres, com cor de caramelo e
sabor de especiarias como cravo e canela.
A adega é mais uma
atração internacional, incluindo rótulos chilenos, franceses,
portugueses e africanos, indicados por Corine para acompanhar as suas
diferentes criações. Depois do almoço, a grande pedida é uma tarde de
preguiça na biblioteca ao ar livre da pousada, de frente para o mar e
cercada de oito mil hectares de natureza preservada. No meio da tarde, o
espaço é abastecido com café e bolos saídos do forno.
Pousada Beijupirá (Porto de Pedras)
Com um ambiente rústico chique, a aldeia Beijupirá é um lugar para
esquecer de vez a rotina, dormir ao som do quebra-mar e tomar um café da
manhã todo especial com vista para a piscina e o oceano, acompanhado de
sucos de frutas da época, pães caseiros, tapioca quentinha, cuscuz,
banana da terra, geleias, entre outros quitutes regionais.
Quando se fala nas refeições principais, o cardápio oferece opções
interessantes, como o peixe beijupirá - que dá nome à pousada. Típico do
Nordeste, o pescado agrada com sua carne branca e fresca, além de
textura macia. O gosto suave e delicado o torna muito versátil, sendo
acompanhado de frutas, azeites e especiarias.
Uma das opções da
Aldeia é o beijupirá grelhado e perfumado com canela, servido com molho
de tamarindo, arroz com curry e banana da terra caramelada com crosta de
coco fresco.
Já o beijupitanga é preparado na chapa com azeite,
batata temperada, arroz de castanha, molho de pitanga. A sobremesa mais
pop da casa é simples, refrescante e imperdível: sorvete de capim
santo.
http://viagem.uol.com.br/guia/brasil/maragogi/roteiros/rota-ecologica-de-alagoas-tem-cozinhas-encantadoras-em-vilas-de-pescadores/index.htm
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